de Cláudia Kover
A Mulher que escreve é pior que a mulher de saltos e caçadeira. A Mulher que escreve é sombra no medo do homem armado – é o receio que se ignora.
Despe o vestido em prosa e calça qualquer tamanco em verso. Pode ter o cabelo branco e a pele enrugada mas não perde a força incessante nos olhos juvenis e entristecidos.
A Mulher que escreve deixa o mundo de rastos, afoga-se em pensamentos e deixa o comum feminino pendurando num cabide do ferro velho.
A Mulher que escreve é dona de um espaço, mesmo que este não lhe pertença e esteja habitada por famílias inteiras.
É, pelo menos, dona de um papel. A Mulher que escreve estraga os saltos agulha e desarma o mundo.
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Cláudia Köver nasceu em Lisboa. Portuguesa de origem alemã, vive na dictomia do caos e da ordenação.
Actualmente reside em Bruxelas, onde se inspira na vida de todos os dias para dar continuidade aos seus caminhos na escrita.
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