A palavra salva
Salva porque representa
Porque transforma
E te toca
Toca quando dizes
Quando ouves
Quando cala
A palavra corta
Corta o silêncio
E silêncio fere
Fere
Não espere de ninguém
Mais do que de ti
Identidade
Força e tens vontade
Luta! Sê forte!
La vida de golpe que sientes
Estás agotado?
No sé torpe
Que torpe é o que sente
Na palavra
E ainda mente para ti
Para si
No que te rechaça
“Empatir” contigo
Não empata!
Vive o profundo o louco
Conviva
Do viver junto
Palavra forte intraduzível
Que eleva
Palavra
Trasmuta e salva
Vem que estou aberta
Me eleva na canção
Pega o meu lixo e me transforma
Lixo ocidental
Da américa do sul
Que vocês não sabem
Mas eu
Nunca tão consciente do potente que há em mim
Potência e paciência, Carol
Que o que te toca te transforma
E não te esquece
Aquece, não esmorece
Sos Golpe!
Lixo Ocidental: https://www.youtube.com/watch?v=EBMNfKRIkGk
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Flore (ser)
Habito o nome de Carolina González. Cheguei à meditação da Camomila Matricaria no dia 30 de maio, maio de Maria, maio de mulher, maio meu mês de maio. Com a meditação já iniciada e por indicação de minha amiga Lia Magalhães, que me sentiu em uma das suas meditações, fui sendo conduzida para um intenso processo de florescer, estabelecer pontes arco-íris e viver meu eu mulher.
No dia que recebi o convite de Lia, assim que abri a página do facebook, canal que tenho usado para manter minha conexão com o mundo de amigues e energias que deixei para trás no Brasil, mas trouxe em minha bagagem pessoal comigo, fui me dando conta de como estou envolvida em um processo muito lindo em minha caminhada, que está resultando em muita luz, amadurecimento e um chamado intenso do meu eu superior que estou atendendo de maneira plena e consciente, também graças à Camomila. Estou vivendo desde abril na cidade da Coruña, na Galiza, Espanha. Terra ancestral onde nasceram meus avós, escolhi Coruña para concluir meus estudos de doutorado entre muitas coisas por ser uma cidade de mar, repleta de energia Céltica, bruxa, Meiga, mística, transcendental e carregada de bonitas vibrações. Coruña rocha forte, de beirada de mar, mar de Iemanjá, a deusa das águas que com força se chocam nas rochas duras que à água sucumbem formando um litoral estonteante, sedutor e radiante, a cartografia sinuosa do litoral Galego como sinuoso é o corpo da mulher. A Coruña de María Pita, pequena e forte María, como pequena e forte era María miña avoa, a galega que saiu de Lugo para dar à luz meu pai no Brasil. A Coruña de Rosalía, a Rosa como Rose miña nai, como Rosália Luger, a avó do homem de minha vida com quem troco cartas e versos e palavras e amor desde nosso primeiro encontro. Rosas que amam a palavra, o verso, a canção, que são as Matrix útero de minha vida, mulheres que pariram luz e estão todas ligadas no infinito cósmico do ser mulher. A Coruña de cornona, o sétimo chakra, o chakra de luz superior, o Sahasrara, a Lótus das mil pétalas, o chacra flor que fica no topo da corona coroa, coroa das rainhas que somos todas, chakra que nos conecta com a Energia Divina, assimilando-a e canalizando-a para os demais chakras físicos, do alto da cabeça e morada da espiritualidade. Desde que cheguei, sinto a presença principalmente de meu avó (com grafia no feminino, pois assim inconscientemente o fiz), um homem doce, muito sensível e extremamente feminino. Irmão mais velho de uma trupe de 7 homens, pai de outros dois rapazes, chorava orgulhoso quando nos apresentava a mim e minha irmã, suas “nenas”, suas meninas, que a ele tanto orgulho dávamos pelo simples e potente fato de SERMOS MULHERES. Meu avó está aqui comigo, me enchendo os olhos de lágrimas sempre que vejo uma flor que andam espalhadas aos montes, já que estamos na primavera. Meu avó ostentava suas netas e um lindo jardim e eram as suas Margaridas Matricarias desde a infância minhas flores favoritas. Donas da singeleza e capazes de me arrancar sorrisos, estão em todo canto na minha história, estampando a roupa de cama da minha casa, blusas e vestidos, compondo praticamente todos os buquês de flores que meu companheiro me regala.
Foi difícil deixá-lo em Brasília, a cidade onde moramos, como difíceis foram nossas últimas crises, brigas e desencontros nos últimos anos. Uma cigana tirou as cartas para mim há 8 anos e disse que aquele menino louro do cabelo com cheiro de shampoo de camomila, sério e fechado, seria o homem da minha vida, para além do amigo que ele já era. A mesma cigana, dois meses antes de eu vir a Coruña, me disse que eu estava prestes a viver um momento mágico de minha vida em outro país, com os pés metidos no mar. Disse que não me preocupasse em deixar meu menino para trás, ele iria comigo e eu ficaria com ele e nossos problemas se resolveriam. Dois dias antes de entrar no avião, no meio de um buquê de flores do campo Matricarias havia um cartão mal escrito, cujas linhas tortas e tímidas encerravam um pedido de casamento. Eu e Pedro nunca estivemos mais juntos que agora que estamos separados.
A minha casa Coruñesa, essa foi difícil encontrar. Levo aqui somente 5 meses, quem iria alugar um apartamento por tão pouco? O que eu havia escolhido não me escolheu de volta, o proprietário não o quis alugar, mesmo eu tendo pedido ao Santiago Apóstolo, santo protetor da terra ancestral, que me ajudasse. Quando já acabavam as esperanças, Doña Purificación abençoada me ligou dizendo que queria me conhecer. De frente para a Glorieta da América, Carolina americana recebe a glória da notícia que doña Purificación toparia alugar o apartamento pequeno, mas muito soleado, que ela é proprietária, já que havia sentindo em mim “muy buena onda”. Antes de tomar a decisão, no entanto, fui dar uma volta para espairecer. Pensava: que injusto, porque não o outro, que eu havia gostado mais? De frente para o apartamento há um parque: Santa Margarita. Margarita Matricaria me sentou num banco de frente para um gramado coberto e repleto como uma manta branca de pontos amarelos, uma manta de Matricarias Camomilas de grama, que sorrindo me pediram meu “Sim, eu aceito”. Assim se concretizou nossa união, minha e do apartamento da Glória, da Purificación, da Margarita. Aqui estou vivendo dos dias mais felizes, cheiros de luz e plenitude de minha vida. Inquieta que sou, num dia me encaminhando para a praia onde corro, que fica a 2 quadras de casa, passo por um estúdio de ioga chamado “Inspira”. Inspirou-me a entrar. Quando me meto ali, um pequeno monjezinho de cabecinha raspada e braços cobertos de tatuagens de flor de lótus (a mesma flor que tenho tatuada nas espaldas, a flor do sétimo chakra tão aberto em mim por estes dias) me recebe sorridente. Contente me diz que a ioga integrativa que faço com minha amiga Marina Baldoni, do Brasil, que também nos acompanha nesta linda jornada de encontro espiritual Matricaria, me diz ele que é a modalidade que ele conduz, a integrativa que a algo mágico me ia integrar. No primeiro encontro de meditação que tivemos, ele me envolveu numa luz azul calma e duas vezes pela semana me arranca sorrisos e gargalhadas quando diz com aquela voz suave e aveludada que eu leve a intenção de amor, luz e paz “desde los talones hasta las coronillas”. As partes do corpo humano em castellano, ah, que delícia são as partes do corpo humano ditas em castellano! As mejillas são o que soa de mais bonito quando dito com sorriso. É a palavra sorriso, a palavra que eu mais gosto de cantar. Quando Lia me enviou o convite para fazer parte do sagrado encontro Manzanilla tudo isto já havia acontecido. Muitas noites de insônia em que meu eu superior me despertara do meu sono profundo e taurino para me trazer novidades, muitas e muitas páginas de tese redigidas com amor, afeto e suor, muitos encontros com meu avô, muitas canções de Caetano, o Caetano cantor favorito que tanta coisa dentro mexe e mexeu comigo, Carolina dos olhos tristes, ao fazer um concerto belo na Ópera da Coruña que fica na mesma Glorieta da América onde vivo, um concerto que me foi presenteado pelo homem da minha vida em razão de meu aniversário, meu primeiro concerto Caetanizado, meu primeiro encontro com Caetano celebrado na Coruña, na Galiza castrélica, na terra de Breogan, na miña terra. Meu pranto não vai nada mudar, mas todo dia choro com Clara Nunes, Ney Matogrosso, com a morte de Belchior, com Gal, Bethânia, choro litros de saudade e de felicidade com toda e cada novidade. Também há litros e litros de chá de camomila, que eu tenho consumido aos montes para ver se o sono vem. Foi a primeira coisa que comprei no Gadis, o supermercado que fica também na rua de casa. Foi o óleo essencial que eu trouxe, junto do de Litsia Cubeba e o de Lavanda, com o qual tenho feito banhos de sais para me acalmar e purificar a alma, já que o encontro com meu eu superior toda noite me desperta e me alerta para as imensas sensações que estou a processar.
Querendo muito compartilhar as infusões da Camomilinha com alguém, como estava sendo sugerido por ela mesma, a Camomilinha, fui à ioga numa tarde de Xoves chuvosa e, depois de uma rodada de ásanas incríveis, para abrir o peito, que é meu maior problema, ombros caídos e fechados, depois de cuidar com um Krya pensado em mim para minha postura, meu mongezinho galego conduziu a mais linda das meditações que já sublimei na vida. Deitados em savasana, ele pediu que pensássemos em uma luz, sentíssemos essa luz nos envolvendo, que não podia ter outra cor para mim senão o amarelo dourado. Em seguida, disse para sentirmos a energia feminina que estava presente e forte em nossa sala e aura. Pediu que todas, homens e mulheres que estavam ali, todas sentíssemos a força do feminino que habita em nós. Quando este momento intenso que me fez sentir toda a potência da Matricaria se consolidou, não me restou dúvida de que era com ele que eu devia compartilhar um chá. Há chás disponíveis na recepção do estúdio, então preparei um com amor e carinho e ofereci a ele. Contei brevemente do nosso ciclo de encontros com a força mulher Matricaria e, antes mesmo de eu terminar meu relato, ele com emoção me disse que presenciou, ao conduzir a meditação à força de uma luz amarela que estava preenchendo toda a sala que ocupávamos. Matricaria estava ali, comigo. Matricaria sou eu, somos nós, somos tods um neste universo louco, infinito em que somos Universos, somos infinitas, somos flores astrais. Por tudo isto, pela Clara Nunes que sambei na beira do mar cantando Iemanjá, pelas belezas da vida e por estar vivendo e compartilhando e transcendendo, por tudo isso MINHA IMENSA, ETERNA E ABSOLUTA GRATIDÃO. Que alegria estar viva e compartilhar. A toda luz, paz, bem, belezas, Matricaria, alegria e VIDA.
Encerro com a música que mais tenho ouvido desde que cheguei na Coruña, uma música VIDA e astral performatizada pelo homem mais feminino do universo, Ney Matogrosso. Sintam toda esta luz astral.
FLORES ASTRAIS-
Secos e molhados
Um grito de estrelas vem do infinito
E um bando de luz repete o grito
Todas as cores e outras mais
Procriam flores astrais
O verme passeia na lua cheia
O verme passeia na lua cheia
O verme passeia na lua cheia
O verme passeia na lua cheia
https://www.youtube.com/watch?v=t63MPf1daCA
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Cartografias (im)possíveis
O primeiro lugar onde habitei foi o útero de minha mãe
Matrix
Matriz
Matricaria
Hoje habito o mundo
Habito segundos, espaços, abismos
A cada passo que dou, no entanto
Com encanto cuido onde piso
Pois o piso é repleto de afeto
O piso é a calma com que ando
Matricaria chamomilla
Liberta pró útero mundo
Habita o que há em mim
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Carolina González, mulher, brasileira-galega, sensível, apaixonada por flores, plantas, cores e cheiros, colecionadora compulsiva de palavras e memórias, ávida por mudança social e por um mundo mais feminino. Também professora, socióloga e linguista, se isso interessa de algo.