por Giada M. Barcellona

Fotografia: Mariola Mourelo

Trascriçom e ediçom: Sara M. Bello

Há já alguns anos, o 8M tornou a ganhar visibilidade social e força e na Revirada pensámos: porque nom celebrarmos as companheiras e as suas reivindicações?
Parece contraditório, nom é?, dedicar ao 8M o artigo central do Há um elefante na sala, centrado nas confrontações dentro do feminismo – o 8M, a quinta-essência da unidade feminista, a vitrina para mostrar a potência, as conquistas e os desafios do feminismo.

Mas sabemos também que nom é real falar de unidade, nem mesmo por um dia só. E sobretudo, nom é ético. Nom fai justiça às companheiras ativistas que durante todo o ano se encontram e debatem para dar substância a ideias diferentes sobre como chegarmos a objetivos que podem (ou nom) ser comuns, que concretizam propostas que finalmente ficam (ou nom) fora dos discursos oficiais. Que querem aproveitar a oportunidade para estar presentes neste dia ou decidir nom estar e proclamá-lo bem forte, para denunciar as derivas burguesas, racistas, classistas, capacitistas e transfóbicas que existem no feminismo.

Em teoria, é bonito falar da bondade das diferenças, de acolhermos todos os pontos de vista, mas nom deixa de ser doloroso, frustrante, enfrentar-se a confrontações que nos ferem no ativismo feminista. Tudo isso é para celebrar? Talvez sim, celebrar que existam vozes dissidentes e que imos escuitá-las, sem pretendermos ter a soluçom para resolver as confrontações.

Decidimos entrevistar companheiras que tenhem perspetivas, sensibilidades e práticas diferentes dentro do ativismo. 

A seguir, publicamos fragmentos destas entrevistas gravadas durante a manifestaçom “Sem cuidados nom há vida”, organizada por Galegas8m e que tivo lugar em 1 de março, em Verim; durante a manifestaçom de 8 de março na Corunha, e durante a manifestaçom noturna, organizada polas ativistas autónomas Livres e Combativas que  decorreu na noite entre 7 e 8 de março, na Corunha.

As companheiras entrevistadas em Verim som Aida Suárez do Coletivo Feminista do Porto, Mar Cendón, María Rosendo, Marta Cortacans da Marea Feminista, Natalia Domínguez Galán, Vice-presidenta do Colégio de Educadoras e Educadores sociais da Galiza, Noelia Darriba García, Integrante das Fiadeiras, do Colégio Profissional de Educaçom Social e Raquel Cordeiro da Associaçom Nós Mesmas, Sarah D. Lamas, de Galegas8M e AvanteLGBT.

As companheiras entrevistadas na Corunha em 8 de março som Dores, Paula Tomé do Movimento Galego de Saúde Mental e grupo de whatsapp Vinhos Feministas e Vanesa.

As companheiras Livres e Combativas entrevistadas som Aida Vázquez, Lucía, Noemi do coletivo Ervas Bravas e Sandra e Laura, feministas autónomas que fam parte dumha equipa mista de futebol gaélico com base feminista.

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O 8M é um dia de luita e reivindicaçom que nos torna livres. As mudanças conseguem-se com a luita.

O que é 8M para ti e por quê?

Uma data simbólica para o assassinato de trabalhadoras, uma lembrança dessa data e um lembrete de tudo o que se está a fazer durante todo o ano, nom apenas no 8 de março.

Um dia bonito, em que podemos ver que somos todas irmáns, que tem que ser assim todos os dias.

Um dia das diversidades do feminismo — ou deveria ser isso — em que apesar desta diversidade ou mesmo graças a esta diversidade, nos juntamo todas para demandar estes direitos comuns em que todas acreditamos.

Unha maneira de nos visibilizar e fazer ver à sociedade que nós mesmas podemos defender-nos sem precisar de mais ninguém.

Um dia de luita e reivindicaçom que nos torna livres. As mudanças conseguem-se com a luita. 

Este ano, as reivindicações da Galegas8M vam concentrar-se nos cuidados. Cuidados, por quê?

O trabalho e o cuidado domésticos som a base do sistema patriarcal e, se nom formos treinadxs nessa base e na raiz disso, nom conseguiremos chegar; se nom olharmos para o que sustenta a sociedade capitalista.

Que haja umha perspetiva mais intersecional, mas de verdade, nom só de palavra que soa muito bem: por que é que nom estám aqui as mulheres que trabalham nos cuidados, as mulheres racializadas? Às vezes fazemos um trabalho mais superficial e mais cómodo. 

A mudança de modelo nom pode ser através da opressom, como brancas privilegiadas, doutras mulheres com menos recursos económicos; os cuidados devem ser coletivizados e entendidos como uma atividade básica e prioritária para a vida, que é o que som.

Tradicionalmente, os cuidados recaem sobre as mulheres. Vemo-los como algo agradável, mas termos um espaço de cuidado, todas e todes, é muito importante. Nom há vida sem cuidado, é algo humano.

Pomos a atençom nas mulheres cuidadoras, tanto as que fazem trabalho gratuito em nome do amor, quanto as que fazem isso em condições de semi-escravidom mal remuneradas, especialmente no caso das mulheres migrantes: elas som as grandes esquecidas e merecem todo o apoio.

Parece-me que os cuidados som mui necessários, mas precisam de ser estendidos a outras áreas, como o âmbito das emoções, o atendimento daqueles que nom se sentem bem, o compartilhar ideias diferentes com respeito, etc.

Além dos cuidados, quais outras reivindicações som prioritárias para ti?

Deveríamos dar um passo adiante quanto aos assassinatos machistas: parece-me que nom estamos a receber a resposta contundente que este flagelo mundial precisa. Nom podemos continuar tam paradas diante dum terrorismo de estado, como é a violência machista. 

A lesbofobia em geral é brutal, embora na Galiza, em Galegas 8M e no feminismo, nom existam esses debates absurdos e transfóbicos. O feminismo deve ser interseccional e teria que dar voz às mulheres racializadas.

Também reivindico fazer melhor as cousas entre nós, em relaçom com o amor, a amizade, fazer cousas de maneira mais saudável.

A sororidade entre nós, o empoderamento como grupos e de maneira individual fortalece-nos para reivindicar diante dos poderes opressores as nossas ideias e propostas para mudar o mundo.

A diversidade – sempre falamos sobre diversidade – mas nom está nunca. A ideia está, mas nunca está na organizaçom.

A cousificaçom dos nossos corpos, de qualquer tipo de opressom por sermos mulheres, do teito de vidro e ao chao de lama.

A ascensom de partidos políticos que som umha ameaça real e existente de perda de direitos e a ignorância de muitas pessoas que nom percebem esse perigo, que afeta mais os direitos das mulheres.

Educaçom sexual a partir dumha perspetiva feminista. Porque agora está nas maos do pornhub. E questões pendentes, como prostituiçom e transfeminismo. Com sororidade, paciência e autocrítica.

Ser capaz de andar pelas ruas sozinha, segura, depois do trabalho e nas festas.

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A diversidade – sempre falamos sobre diversidade – mas nom está nunca. A ideia está, mas nunca está na organizaçom.

Este ano Galegas8m decidírom nom convocar greve laboral. Que che parece?

Respeito plenamente a decisom dalguns sindicatos de convocar umha greve e, assim, darem cobertura às mulheres que desejam fazer greve. Mas num nível pessoal, acho que uma pequena pausa é boa. “Se todas pararmos, para o mundo”, é uma ideia brutal, mas já som vários anos seguidos (com pouco acompanhamento) e as estratégias ficam  facilmente desvirtuadas. 

Não só deveria haver greve laboral, mas de tudo: a base de todo o movimento deste ano está centrado nos cuidados e no domingo os cuidados nom tiram folga, no domingo as mulheres trabalhamos.

Parece-me um erro nom convocar a greve laboral este ano: parece-me umha perspetiva — nom sei bem como hei de dizê-lo — classista, eurocêntrica, alheia à vida de muitas mulheres que trabalham aos domingos.

Quanto à nom convocaçom da greve, as que organizárom assim decidírom, e as que se lamentam nom estivérom na organizaçom: também há que estar no sítio para opinar. Eu tampouco estou na organizaçom, mas se tenho que dar a minha opiniom, hoje há mulheres que trabalham, mulheres precárias, migrantes. Mas todas estamos ao seu lado, com greve ou sem greve.

Umha greve é umha ferramenta que às vezes precisamos de usar e às vezes nom. Mas entendo também que existe um setor importante de mulheres que trabalha em domingo e tenhem o direito de ser apoiadas.

A greve dá força: se pararmos, o mundo para.

Parece-me negativo que nom fosse convocada greve laboral, porque a notícia dumha greve é ​​muito visível, aparece nos jornais, cria incomodidade, e esse é um dos objetivos dum movimento político: a greve é ​​uma ótima ferramenta de incomodidade. Desta forma,  polo contrário, tudo é mais light e flower power.

Nom me parece nem bom nem mau: há pessoas, por exemplo, que tenhem umha pequena loja que nom pode fechar. Tem que ser uma escolha. 

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Nom queremos fazer parte dumha instituiçom, porque acreditamos que o feminismo e os coletivos feministas tenhem que partir e trabalhar da base da sociedade.

**Para as companheiras Livres e Combativas, quais as vantagens e as desvantagens de nom estarem institucionalizadas?

Vejo mais vantagens em nom estarmos institucionalizadas: somos muito mais livres, as atividades podem ser mais amplas; podemos ir além do que o calendário institucional indica, quando se trata de expressar-nos, fazer cousas, relacionar-nos, ocupar espaços.

Nom queremos fazer parte dumha instituiçom, porque acreditamos que o feminismo e os coletivos feministas tenhem que partir e trabalhar da base da sociedade.

As cousas som feitas por consenso, sem obrigaçom: na minha experiência, a autogestom é a melhor maneira.

Na organizaçom do 8m, vim acima de tudo umha posiçom abolicionista. Eu som anticapitalista e, embora nom goste do sistema de prostituiçom, som a favor das putas, mesmo que nom acredite na prostituiçom.

E depois do 8M, quê?

Vou continuar a fazer 8M todos os dias da semana, porque nom fai sentido pensarmos só no 8M e aceitarmos as migalhas que esse sistema nos dá, quer no dia 8 quer nos dias que estám à volta. 

Continuamos a luitar polos direitos da comunidade LGBT. A educaçom é umha obriga para nós, no entanto … conversas, colégios, visibilidade nas ruas, Orgulho e nem um passo atrás.

Continuarmos a trabalhar e a tecer redes. É um poder que nós, as mulheres, temos: as redes que podemos tecer, continuar a debater e nom decair porque o patriarcado está à espera que deixemos a luita.

Continuar a dar visibilidade ao feminismo louco, que também é muito esquecido. Quando umha mulher nom é estável, parece que nom pode participar. Mas som o patriarcado e o capitalismo que nos adoecem e é isso que torna as nossas vidas insustentáveis.

Continuar a pertencer a grupos: isso é um objetivo da vida, ajuda-me a crescer, a ser uma pessoa melhor e umha mulher muito mais livre. Procurar libertar quantas mais mulheres possíveis e ser feliz com as minhas companheiras.

Continuar nas mesmas linhas, especialmente aquelas que som mais esquecidas: as classes populares, as mulheres racializadas, as mulheres trans, as prostitutas, etc. 

GREVE LABORAL EM 8 DE MARÇO: SIM OU NOM? 

Galegas8m convocou greve de consumo e cuidados, mas nom greve laboral.

A decisom nom foi partilhada pola CUT, o Sindicato Labrego e a CNT Vigo, que sim a convocárom. Aprofundamos com as companheiras de Galegas8m e com Maria Fidalgo (CUT) nos motivos que levárom a estas decisões opostas.

GALEGAS 8M

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Para nós a nom convocatória de greve nom é sinónimo de desmobilizaçom, todo o contrário, aproveitamos este ano para centrar os nossos esforços e trabalho nos eixos dos cuidados, do cuidado do território e do consumo que, na Galiza, nas greves anteriores ficárom silenciados pola convocatória de greve laboral.

Quando começárom, como se desenvolvérom os debates e como se chegou à decisom de nom convocar greve? 

Em 2018 e 2019 participámos na Greve Internacional de Mulheres (de cuidados, laboral, estudantil e de consumo) do 8 de março, impulsionámos umha greve feminista que vaziou milhares de centros de trabalho, de aulas e de lares no país. Desbordando ruas e praças com milhares de mulheres demonstrando que quando as mulheres paramos, o mundo para. Este ano 2020 considerámos que era preciso centrar-se nos eixos em que topámos mais dificuldades para realizar a greve: os cuidados e o consumo. Assim, acordámos nom convocar greve para 8 de março e pomos os cuidados no centro das nossas reivindicações, tanto da mobilizaçom nacional do 1 de março, como nas locais do 8 de março. 

A decisom de nom convocar greve foi tomada em 15 de dezembro de 2019, em Ourense, na primeira assembleia organizada por Galegas 8M para começar a trabalhar na convocatória deste ano. Nesta assembleia, como nas seguintes, nengumha das mulheres presentes, nem dos coletivos que participam, fixo a proposta de convocar greve laboral, e por este motivo a decisom foi adotada já desde este primeiro momento. Portanto o debate nom foi tanto greve sim ou nom, mas como dar visibilidade ao que ficava oculto: os cuidados. Queremos derrubar um sistema que pom o enriquecimento económico por riba das pessoas e do nosso entorno. Nom fazemos greve, mas encheremos as ruas de Galiza o dia 8 de março com as nossas manifestações, concentrações e ações  de rua nas paróquias, vilas e cidades. Levamos meses trabalhando arreu e programando atividades, performances, palestras, intervenções de rua, concentrações, para mobilizar as mulheres galegas e chamar a secundar a convocatória. Mais um ano tremerá o sistema com o nosso grito coletivo.

Quais som as razões que levárom à decisom de nom convocar greve?

A nom convocatória de greve foi a decisom deste ano, na assembleia decidem-se as diferentes mobilizações e ações. Umha greve laboral é só mais umha ferramenta das que coletivamente utilizamos e, portanto, para nós a nom convocatória de greve nom é sinónimo de desmobilizaçom, todo o contrário, aproveitamos este ano para centrar os nossos esforços e trabalho nos eixos dos cuidados, do cuidado do território e do consumo que, na Galiza, nas greves anteriores ficárom silenciados pola convocatória de greve laboral. Porque muitas vezes é impossível parar de cuidar!!

Os cuidados som todos esses trabalhos invisíveis que fazemos para o mantimento da vida: desde ocuparmo-nos das crianças e pessoas dependentes, as compras, à limpeza da casa… Mas também o cuidado da natureza e do território. Com umha visom anti-capitalista, Galegas 8M queremos reivindicar a Vida como centro, pondo em valor o que fica oculto.

Cara às relações com as companheiras feministas que decidírom convocar greve, qual vai ser a posiçom de Galegas 8M?

Galegas 8M configura-se como umha rede de mulheres individuais e de diferentes coletivos feministas. A ideia de Galegas 8M nasce no ano 2018 em chave galega, diversa, inclusiva e horizontal: organiza-se por meio de juntanças abertas tanto a nível nacional, como nas diferentes aldeias, vilas e cidades. Assim, criou-se um espaço aberto de trabalho e crescimento coletivo no que nom se limita a entrada de nengumha mulher ou organizaçom com vontade de trabalhar e contribuir. Nom é umha plataforma que tenha atividade contínua em todo o ano: a sua tarefa principal é a organizaçom do 8 de Março no nosso país, criando um espaço capaz de unir a diversidade do feminismo galego.

Todas as mulheres que fazemos parte, a título individual ou coletivo, deste espaço temos o mesmo nível de participaçom e decisom, e nom entra dentro da filosofia com que nasce esta organizaçom julgar ou adotar decisões a respeito das atividades e convocatórias dos coletivos que fam parte ou nom de Galegas 8M. É por isso que este ano figérom parte das assembleias mulheres e coletivos que convocavam ou apoiavam a convocatória da greve para este 8 de Março, após o acordo adotado em Ourense. Mulheres que fôrom livres para expressar a sua opiniom sem silenciamentos, julgamentos ou vetos. 

Galegas 8M sai às ruas com o apoio de mais de 50 coletivos feministas da Galiza, chamando à mobilizaçom e acordando trabalhar de forma horizontal e radicalmente democrática. Nom pensamos que corresponda a Galegas 8M adotar nengum tipo de decisom ou posicionamento a respeito das dinámicas individuais ou coletivas que se organizem fora do espaço comum, desde que nom suponham um ataque direto contra a coletividade. 

MARIA FIDALGO (CUT)

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O conflito e o debate, se ocorrem no quadro dum reconhecimento das outres e de respeito às posições, é algo positivo para os feminismos e para a auto-organizaçom de base.

Quando começárom, como se desenvolvérom os debates e como se chegou à decisom de convocar greve?

Em dezembro, nas diferentes comarcas onde a CUT tem presença com a sua base afiliativa, dérom-se os primeiros encontros em relaçom ao 8 de março deste ano. Sempre no mês de dezembro dá-se, em Ourense, a primeira reuniom de Galegas 8M: foi submetida a diferentes datas, mudou-se de datas por motivo de quorum, ou do que for, e finalmente nengumha companheira da CUT puido estar presente. Nesta assembleia decide-se nom convocar, em 8 de março, greve laboral, mas somente greve de cuidado e de consumo, como eixos que – da perspetiva da análise feita nessa assembleia – ficárom pouco atendidos nas convocatórias de 2018 e 2019.

Entretanto, entre dezembro e janeiro, achegam-se a CUT coletivos feministas, integrantes ou nom de Galegas 8M, para mostrar-nos o seu desejo de dar cobertura ao direito de exercer a greve, dado que as outras centrais sindicais nom iam estar na mesma posiçom. Entom, em 11 de janeiro é quando tomámos a decisom de registar a convocatória de greve ante os organismos públicos, para as mulheres que realizam atividades laborais por conta alheia exercerem o direito a parar e a participar nas mobilizações. Vamos explicar a nossa posiçom e o porquê da convocatória da greve na segunda assembleia de Galegas 8M, em Betanços, em 19 de janeiro. Nessa assembleia ninguém pede que nom se registe a greve, nem que mudemos de ideia: entende-se e parece respeitar-se esta posiçom, ainda que depois aparecessem outros pareceres e inclusive a invisibilizaçom da convocatória.

Quais som as razões que levárom á decisom de convocar greve?

Chegou-se à decisom de convocar greve por vários fatores: um, o principal, foi a voz da nossa base afiliativa, das companheiras que precisamente trabalham em âmbitos vinculados aos cuidados profissionais ou aos setores altamente feminizados e que portanto exercem a sua atividade laboral em domingo. Para as companheiras, a convocatória dumha greve de cuidado e consumo, quando outras companheiras tenhem que trabalhar esse mesmo dia, seria umha situaçom de desigualdade e de privilégio para com elas. E ante este argumento nós, de um ponto de vista ético, nom podemos faltar a esta responsabilidade, ainda entendendo as dificuldades para as mulheres que trabalham nestes sectores acolherem-se a esta greve.

Outras razões de convocar greve som tanto colocar o foco nesses setores laborais mais precarizados, em grande parte vinculados às atividades feminizadas, quanto a preocupaçom que no cenário político atual experimentamos, por um lado, um aumento da presença da incidência social do feminismo, mas também certa cooptaçom por parte das institucionalidades e do âmbito empresarial para legitimarem as próprias políticas através de discursos feministas, propondo só pequenas mudanças no quadro dum sistema capitalista, colonial, androcêntrico e heteronormativo. Com estas conjunturas, é importante um feminismo comprometido com a transformaçom sistémica profunda, com a luta anti-capitalista, anticolonial, anti-racista, anti-espólio do território, contra as fronteiras e as políticas migratórias, contra aqueles feminismos transexcluentes e reprodutores de discursos de ódio. 

Cara às relações com as companheiras feministas que decidírom nom convocar greve, qual vai ser a posiçom da CUT?

O conflito e o debate, se ocorrem no quadro dum reconhecimento das outres e de respeito às posições, é algo positivo para os feminismos e para a auto-organizaçom de base. Entom, queremos pensar que essa diferença de critério pode fomentar um debate mais profundo: em que posiçom, dentro dos feminismos, nos queremos situar, que trabalho estamos dispostas a fazer também para além do 8M. Está claro que para aprofundar neste debate, precisamos de fazer um exercício de escuita recíproca, e de chegar a consenso dentro dos objetivos a conseguir. Desde aí estamos abertas a discutir, disponíveis a ter-nos equivocado, inclusive, se é o caso, com esta convocatória. Sentimos que fazemos o que a ética feminista e de classe nos coloca, mas também assumimos o direito a enganar-nos. Gostaríamos também que as outras agentes nesse debate pudessem fazer esta reflexom: nom considerando quem perde ou quem ganha, mas avançando como movimento questionador, capaz de conseguir um mundo de justiça social. E daí, estamos disponíveis a qualquer iniciativa organizada pola Revirada, como espaço de produçom de pensamento e açom feminista.

Sabemos também que dentro dos próprios feminismos lidamos com umha diversidade de vozes e buscamos formas de funcionamento que reflitam estas diferenças de sensibilidades nas decisões, e nas políticas que se desenvolvam. E fico repensando como é que desenvolvemos os espaços assembleários, de tomada de decisões, para os diferentes ritmos, vozes e posições contribuírem às propostas e às atuações desde os nosso espaços feministas. 

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GIADAGiada M. Barcellona é ativista feminista revirada.

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