por Jo Bernardo
Segundo dados da www.apa.org mais de 39 milhões de pessoas nos EUA têm 65 anos ou mais, incluindo 2,4 milhões de pessoas que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais ou transgéneros (LGBT).
À medida que a geração baby boomer envelhece, a população de adultos mais velhos aumentará de 12,8% para cerca de 19% em 2030.
Os prestadores de serviços psicológicos e cuidadores de idosos precisam ser sensíveis às histórias e preocupações das pessoas LGBT e ser abertos voltados, afirmando e apoiando os idosos LGBT para garantir cuidados acessíveis, competentes e de qualidade. Os cuidadores de pessoas LGBT podem enfrentar desafios únicos, incluindo acesso a informações e isolamento.
A velhice instala-se lentamente no meu corpo à medida que vou sentindo os estalidos dos ossos, eu que pretensiosamente me julguei eterna ou que, em momentos de desespero pretendi que, de todas as formas não correria nunca o risco de viver para além dos 33 anos porque essa era a idade media de vida de qualquer pessoa que, consciente ou inconscientemente, percorreu um caminho predisposto a todas as formas de discriminação e abusos que se possam imaginar, dai que não era suposto ter chegado aos 60. E, chegado o momento em cujo primeiro pensamento quando acordo é o de verificar se as dores habituais no corpo não se deslocaram para outros perímetros, se nenhum órgão se encontra mais debilitado do que é comum ou se a primeira tarefa do dia, depois de fumar o primeiro cigarro, não será a de ter de marcar uma consulta ou perguntar a uma amiga profissional na área da saúde se devo tomar medidas adicionais para poder sair á rua sem recear um tropeção que me estatele no chão como tantas vezes aconteceu sempre que os níveis de álcool estavam acima do humanamente aceitável.
Por enquanto ainda está tudo mais ou menos bem em termos de saúde física e mental, mas… pensando no dia em que deixe de dispor da autonomia necessária para poder decidir, pergunto-me qual vai ser o nosso futuro dos nossos idosos LGBTQ+ e em que condições é que vamos envelhecer.
As alternativas que se nos apresentam atualmente são aterradoras porque as instituições de cuidados tradicionais cuja impreparação e, por demasiadas vezes, condição de trabalho do pessoal cuidador estão formatadas para a descaracterização da personalidade do individuo a menos que se disponha de verbas financeiras colossais para poder recorrer a clínicas privadas cujos serviços são efetivamente excelentes na generalidade, mas cuja tabela de preços é incomportável para a maioria das pessoas.
Como alternativa, emergem modelos de gestão alternativos que, a meu ver, mereceriam uma atenção especial não só pela alternativa que sugerem, mas cuja filosofia se aproxima mais do respeito que merece a pessoa humana e que consiste na criação de infraestruturas autónomas de autogestão fomentando a mobilização de meios económicos consequentes para a compra e adaptação de espaços que permitam albergar pequenos grupos de pessoas. Outra alternativa consiste na colocação sénior, pouco conhecida ainda em Portugal, mas que tem surtido efeitos no estrangeiro.
Estes modelos de gestão alternativos, teriam a vantagem, por um lado de contrariar os modelos de gestão fomentadores de desumanização inerentes as instituições generalistas existentes, que não sabem, não querem ou não podem instituir regras que tenham em consideração as especificidades de determinados grupos minoritários. Por outro lado, imagino que, talvez ingenuamente, a criação de modelos de gestão alternativa, forçaria as grandes instituições a reverem o seu modelo de gestão, nem que fosse só por uma questão de trazer de novo para si uma clientela que teria à sua disposição alternativas que no estado das coisas atual não existem.
Obviamente que estes modelos não resolvem o problema maior que consiste no acolhimento de pessoas em situação de dependência total e cuja condição financeira precária não lhes permite sequer a partilha da conta da eletricidade e será nesses grupos onde os esforços precisam de ser concentrados dada a precaridade extrema desta população LGBTQ+.
Utopias à parte, a premência que se impõe é a do conhecimento, da recolha, da coordenação e da difusão de todas as opções ao nosso alcance que permitam a divulgação de todas as alternativas possíveis á população LGBTQ+ e neste caso parece-me que os meios associativos poderiam e deveriam de ter um papel preponderante na recolha e difusão de informação, de acompanhamento, de aconselhamento jurídico e administrativo no sentido de reunir, agrupar e difundir a informação necessária para o desenvolvimento deste tipo de projetos sem termos de esperar por estudos que já existem, também, a nível Europeu. Afinal o objetivo será o de criar mecanismos que permitam criar condições que tenham como objetivo fomentar a execução de modelos práticos no cotidiano das pessoas, cujas autonomias se vão debilitando e precisam de respostas concretas aplicadas no terreno em função das necessidades reais.
Bibliografia.
https://www.apa.org/pi/lgbt/resources/aging
https://www.sageusa.org/transgender-aging-whats-different/
https://cordis.europa.eu/project/id/749760
https://www.ces.uc.pt/lab2004/inscricao/pdfs/grupodiscussao2/JoaoPaulo.pdf
https://envelhecer.pt/nao-estamos-vendo-ou-nao-queremos-ver-nossos-idosos-lgbt-2/
_______________________________________
Jo Bernardo
Puta, pretensa ativista, livreira, empresária, atriz e, quem sabe, também mulher
https://www.facebook.com/jo.bernardo.7
https://www.instagram.com/jobernardoparis/?hl=fr