Somos Mari Fidalgo, Mar Cendón e María Rosendo. Desde há dous anos conformamos umha equipa multidisciplinar de investigaçom e açom, orientada ao trabalho de despatriarcalizaçom de espaços e grupos. Consideramos que revisar e desmontar as relaçons de poder, ao tempo em que construímos coletivamente ferramentas de empoderamento, som tarefas fundamentais para a emancipaçom pessoal e social. O obradoiro “Gênero, poder e feminismo: transformando as relaçons e os cuidados nos grupos” materializa-se como a nossa primeira e talvez mais conhecida iniciativa. É mesmo possível que tu que estás a ler agora este texto tenhas participado nalguma das formaçons que levamos facilitado neste tempo.

Sabemos que os tempos produtivos som bem diferentes aos reprodutivos e daquela, nós mesmas temo-nos plantexado ao longo destes meses a pertinência de fazer público este texto sendo que as conclussons que nel verquemos já foram debatidas e reflexionadas há muitos meses, em concreto a partir do mês de julho do passado ano, quando a Concelharia de Igualdade e Diversidade da cidade de A Corunha nos comunicou a sua vontade de continuar a trabalhar com nós na 2ª Ediçom da Escola de Empoderamento Feminista e quando se cumpriam quase dous meses do desalojo do CSOA A Insumisa na mesma cidade.

Naquela altura nós decidimos nom voltar a fazer parte da Escola de Empoderamento Feminista (EEF). Decidímo-lo de maneira conjunta, debatida e trabalhada desde o reto de abraçar todas as vozes e posturas, todos os medos e sentires; sustentando como melhor podemos, ou seja em coletivo, as contradiçons, dúvidas e encruzilhadas que supom esse posicionamento -mesmo quando o assunto em causa envolve euros e oportunidades laborais. Mas também sem perder de vista o rol de sujeitas críticas que conleva o posicionamento feminista onde nos sentimos situadas, de questionamento permanente do modelo cultural patriarcal.

Por isso agora, ainda passados mais de 4 meses da toma dessa decissom e já rematada também a 2ª ediçom da EEF, decidimos igualmente pôr palavras ao silêncio e dar significado político à nossa decissom de nom participar da segunda ediçom da Escola.

Entendemos que é incompatível com a nossa ética enquanto feministas críticas estar a pular por desmontar as relaçons de poder e dominaçom, e por construir ferramentas de empoderamento, e ao mesmo tempo dar cobertura a atuaçons que representam o abuso de poder, a violência institucional e o esfarelamento das iniciativas de autogestom e auto organizaçom comunitárias. Desde a nossa perspectiva e no concreto, isto último é o que supuxo a gestom realizada pelo governo de En Marea sobre o desalojo do CSOA A Insumisa.

Para nós o sentido do empoderamento que propom o feminismo que nos convoca -anti capitalista, anti autoritário e crítico com a cis hetero normatividade colonial- é mobilizar o poder para transformar as nossas vidas e as sociedades nas que nos desenvolvemos. Desde o nosso ponto de vista isto passa inevitavelmente por abrir fendas neste sistema atroz e liberar espaços da influência institucional, mercantilizadora e normalizante. Por esse motivo, nom compreendemos como se pode gerar empoderamento feminista desde uma instituçom que abusa, reprime, fragmenta e desgasta as iniciativas de contra poder.

Sabemos que nesse ponto adoita abrir-se o debate de se nom estaremos sendo demasiado exigentes com a chamada esquerda institucional. Nós assumimos que sim, que exigimos mais de quem, em princípio, vem dos movimentos sociais de base. Pensamos que atuar dessa forma é agir com responsabilidade política e com o foco posto em avançar coletivamente ampliando as possibilidades de emancipaçom.

Com a publicaçom deste texto nom só queremos dar significado a nossa decissom, mas sobretudo contribuir ao debate sobre a necessidade de autonomia dos feminismos. Sobre como nos relacionamos com as distintas estruturas e dispositivos de poder e como avançamos no difícil equilíbrio entre o ativismo e o fazer profissional desde e com os feminismos.

Galiza, inverno do 2019.
Mari Fidalgo, Mar F. Cendón e María Rosendo

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